“Treinem as pessoas para se reunirem continuamente em oração. Acorde-os com súplicas incessantes. Há uma arte santa nisso.” (C. H. Spurgeon)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Fraqueza?

Por Robson Wellington

Estou há uma semana querendo postar alguma coisa aqui, mas a verdade é que eu não tinha nada de interessante pra contar. Venci o tácito desejo de impressionar a Deus e aos irmãos desfilando com uma bonita máscara de super-crente “Vai tudo bem”. Na verdade desde que assentei no banco dos catecúmenos da igreja maltrapilha dia-a-dia procuro matar uma pouco desse impostor que de tanto dormir e acordar comigo, às vezes penso que sou eu. As coisas não vão nada bem. Estou fraco.

Eu não sou o que você pensa que sou e nem o que eu gostaria de ser. Eu não sou o que deveria ser e não faço o que deveria fazer. Como uma espécie de utopia, muito provavelmente eu nunca atinja as minhas e as suas expectativas. Pela minha capacidade, com toda a certeza eu nunca atingirei as expectativas de Deus. Mas sabe aquela história do poder de Deus se aperfeiçoando na fraqueza? Eu tenho experimentado muito isso. E é sobre isso que eu quero falar. Porque agora eu sei que quanto mais santo mais humano, quanto mais humano mais santo. Como Paulo descobriu, eu tenho descoberto a cada dia a glória da fraqueza.

É bem verdade que ambientes adoecidos pela religiosidade tendem a rejeitar a fraqueza. Ali não se percebe essa glória da fraqueza. Ali fraqueza rima com exposição imprópria e desonra. A preferência é sempre pelo testemunho teatral e auto-engano. Essa preferência é justificada pelo fantasma do escândalo. Eu sinceramente acho que ninguém deve sair por aí com o firme propósito de escandalizar, mas também ninguém deve permitir que a nossa liberdade em Cristo seja objeto da gestão adoecida de fariseus. A religião segue exalando o formol da salvação pelas obras.

Entorpecidos por esse cheiro, sobrevivemos oscilando entre o desejo de punir a nós mesmos por não nos “santificarmos” como deveríamos, por não orarmos como deveríamos, por não meditarmos na Bíblia como deveríamos, por não evangelizarmos como deveríamos e o desejo de congratular a nós mesmos pelo nosso “êxito espiritual” que produz um falso senso de segurança baseado numa certa superioridade moral, comprovada pelas nossas atitudes politicamente corretas e nossa boa reputação. Muitas vezes, ficamos alarmados diante da nossa inconsistência, frustrados por não termos vivido à altura de nossas expectativas. Crentes iô-iô presos em um círculo vicioso de euforia e depressão. Em nenhum desses dois desejos a glória da fraqueza é percebida. Aqui não há Boa Notícia. Lutamos em vão, perdemos tempo, em vez de simplesmente reconhecermos que não somos nada diante de Deus e assim mergulhar num relacionamento profundo com Ele, relacionamento esse que não é ópio, porque não aliena, ele conscientiza, liberta e consola.

O Evangelho declara que não importa o quanto somos dedicados e devotos, não somos capazes de salvar a nós mesmos. O que Jesus fez foi, é e sempre será plenamente suficiente. Nossa total confiança passa ser justamente o fato de não termos confiança nenhuma em nós mesmos. Arriscamos tudo em Jesus. Somos libertos do medo de se admitir, do medo de se enxergar, do medo de olhar pra dentro e se perceber. A glória da fraqueza é ser convertido a arrebatadora realidade da graça de Jesus. Essa verdade, no entanto, não é de fácil apreensão. Ela requer um destronar do eu que ele mesmo não pode fazer sozinho. Sendo assim, somente através de um milagroso golpe de estado contra o eu, resultado da revelação que ilumina o entendimento, efetuando o querer e o realizar em nós, ou através das milagrosas e determinadas quebradas de caras da vida que nos mostram o perdão sem auto-justificação é possível pacificar a nossa resistência, para uma rendição à graça.

Só assim, percebemos a tolice do esforço para obter o favor de Deus, para garantir valor próprio e da pressa competitiva para chegar na frente dos outros. A nossa falência é a Sua exaltação. Aqui descobrimos que somos apaixonadamente e incondicionalmente amados. Maravilhosa graça! Perfeitamente determinada, perfeitamente aplicada, perfeitamente apropriada para minha necessidade.

“Chegando a Macedônia, nenhum alívio tivemos; pelo contrário, em tudo fomos atribulados: lutas por fora, temores por dentro”. Isso foi o que Paulo disse no verso 5 do capítulo 7 da sua segunda carta aos coríntios. Pelo contexto da passagem, percebo claramente que os medos e lutas de Paulo eram bem mais sadios que os meus, mas mesmo assim, me identifico e aprendo ao vê-lo debaixo da graça de se enxergar, de se assumir, de se aceitar livre de grilos, exatamente do jeito que está, de não negar a fraqueza, e de perceber nela uma oportunidade para a manifestação do poder de Deus. A graça que bastou pra Paulo, basta pra mim. O grito reformado de "Sola gratia", é o meu grito também. Os vasos de barro que guardam os tesouros do reino serão sempre de barro “para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós”. A graça de ser fraco. A força de ser gente em Cristo. Aleluia!

Quero terminar falando de “Amazing Grace”. Uma bela e antiga canção conhecida no mundo todo mas que eu só conheci a pouco tempo num evento que participei. Escrevi esse post enquanto ouvia essa composição de John Newton, um traficante de escravos, que oferece sua vida à Cristo em meio a tempestade e naufrágio de seu navio. Quando pensava que iria morrer ele descobriu a glória da fraqueza, Jesus. Certa vez, ele disse: “Eu não sou o que poderia ser, eu não sou o que deveria ser, eu não sou o que gostaria de ser, eu não sou o que pretendo ser, mas agradeço a Deus, que não sou o que uma vez já fui, e posso dizer com a graça de Deus, eu sou o que sou”. Sem saber, falei algo bem parecido no começo. Mas sabe aquela história de identificação e aprendizado? Pecadores graciosamente salvos sempre se identificam (risos).


Amazing grace! (how sweet the sound)
That sav’d a wretch like me!
I once was lost, but now am found,
Was blind, but now I see.
’Twas grace that taught my heart to fear,
And grace my fears reliev’d;
How precious did that grace appear,
The hour I first believ’d!
Thro’ many dangers, toils and snares,
I have already come;
’Tis grace has brought me safe thus far,
And grace will lead me home.
The Lord has promis’d good to me,
His word my hope secures;
He will my shield and portion be,
As long as life endures.
Yes, when this flesh and heart shall fail,
And mortal life shall cease;
I shall possess, within the veil,
A life of joy and peace.
The earth shall soon dissolve like snow,
The sun forbear to shine;
But God, who call’d me here below,
Will be forever mine.
A Ele a glória!

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